O lugar onde cabem as páginas soltas desta caminhada e todos os passos que esta bailarina vai aprendendo a dar
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2013-10-02

Como é que se Esquece Alguém que se Ama?

Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está?

As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar. Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguém antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar.

É preciso aceitar esta mágoa, esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si , isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução.

Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha.
 
Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado.
 
O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar.
Miguel Esteves Cardoso, em "Último Volume"

 
faz-se uma sangria que saí pelos olhos!!!!

7 comentários:

Algures disse...

Como em tudo o que diz respeito ao amor, não há uma receita certa. Podia arranjar-se um comprimido! Sei lá, arranjam-se comprimidos para tantas coisas, que este seria apenas mais um! E a falta que faz?! Teria sucesso imediato. Se vermelho é a cor do amor, teria de ser o oposto. O oposto não sei qual é, a não ser que seja azul, futebolisticamente falando, mas azuis já são os outros, e vai daí, em vez de nos livrarmos do amor, ficávamos com vontade de o fazer! Fazer O amor! Complicado... o melhor é ficar verde, apesar de já não ser oposto há algum tempo. Verde, cor da esperança. Esperança?! Essa não faz bem ao amor... Se nem nas cores se acerta, como se vai esquecer o amor?!
- Tragam-me um comprimido para as dores!
- Para as dores de amor não temos...
- Mas fazem ideia da quantidade de gente que padece dessa doença?! Onde está a OMS quando é preciso?! E a Ordem dos Farmacêuticos? E a dos Médicos?! A dos Advogados não que já estou farto dela... vou fazer uma queixa!
- Traga-me o livro de reclamações por favor!
Tudo isto para fazer esquecer o amor, e ele ainda cá está, sem comprimidos, com dor... um bocadinho de humor.
Não tenho uma receita exacta minha querida Bailarina, inclusive, este texto já foi colocado Algures onde apenas eu sei... na busca de resposta. É uma "doença" que ainda não foi erradicada, para a qual não existe cura. A sabedoria popular diz "longe da vista, longe do coração". Ajuda... O tempo, as pessoas, a mente ocupada... a consciência que, se nem no nosso coração mandamos, muito menos mandamos no dos outros. A consciência que, não podemos obrigar ninguém a gostar de nós. É assim a vida, imperfeita como foi criada. É assim o amor, imperfeito como só ele.
Quem sou eu para falar do amor?! Quem sou eu para o conseguir esquecer?!
E alguém que se ama?! Não sei...
Sorri...

Um grande beijinho e um sorriso. Tem uma excelente semana! :-)

A Minha Essência disse...

Nunca se esquece. Só se começar a sofrer de amnésia. E mesmo assim, nos breves momentos que tenha de lucidez, irá à caixa de pandora.

;)

bailarina disse...

Algures,

A vida não vem com receitas... certo?! Porque viria o amor...

Eu então, acho que em termos respostas não ando a ver nada, neste momento. Não me apetece nada, não quero nada, não tenho grande vontade para nada. E se preciso tomar decisões...

Agora fazia-me falta uma ocupação diária, daquelas que nos mata o corpo e não deixa a cabeça sossegada. Mas estar desempregada dá-me muito tempo, tempo a mais. Ainda estou numa formação de Inglês, no período da manhã, mas deito-me tarde... o sono não chega, apesar do cansaço me derrubar e trazer-me umas dores de cabeça insuportáveis. Daí a irritabilidade... aquela que já fui algures deixar um pouco :)

Quanto ao tempo, é futuro! Mente ocupada, não consigo... por agora não consigo! As pessoas? Sou uma pessoa caseira, os meus interesses estão limitados neste momento. E vou ser sincera detesto esta cidade.

E claro que não mandamos em ninguém, porque aí, alguém mandaria em nós... qual pescadinha de rabo na boca. Falta uma conversa.

Estou em modo bipolar... da parte da manhã farto-me de rir, ajudo um senhor ao meu lado que não entende nada de inglês. Não quer dizer que entenda, mas estamos no básico e por ora é fácil. Depois passo o resto o dia em silêncio puro, em apatia ou quando as recordações são já pesadas para a hora, abro as torneiras lacrimais. Não soubesse e diria que ando em TPM à mais de um mês. Depressão também não é! Mas qualquer médico me passaria um comprimido por dia.

Tristeza... apenas e só.

Quando li este texto ontem à noite, a torneira encheu um balde :) e veio aqui parar...

Um grande beijinho para ti também e um semana cheia de sorrisos.

bailarina disse...

Minha querida Essência,

verdade, nunca se esquece! Já pensei em pedir uma operação ao cérebro, para que me cortassem umas ligações sináticas lá em cima. Trabalhar menos com o coração e mais com a cabeça!

Mas olha que me daria jeito uma amnésia temporária... teria muitos benefícios. Depois logo me arranjava com a tal Pandora e a sua caixa hehehe

Beijinhos grande Linda.

Algures disse...

Bailarina,

Não, a vida não vem com receitas, muito menos o amor... tens razão.

Recordas-te da frase que coloquei há dias algures? O mais importante é dar o primeiro passo. Joguei xadrez muitos anos e um dos mestres com quem jogava dizia uma coisa relativamente ao jogo, que pode e deve-se aplicar à vida - Mais vale ter um mau plano, de que não ter plano nenhum. Alia esta frase a dar o primeiro passo e terás aí o início para algo. Bem sei que falar é fácil e que, acima de tudo, precisas de um rumo, mas vais encontra-lo. Tenho a certeza...és uma mulher determinada. Em frente.
Compreendo o que precisas. O inglês efectivamente é pouco para um dia tão grande. Tenta estabelecer umas regras para o teu dia, por forma a cumprires horários, teres actividades. Quanto à irritabilidade, livra-te dela! Não precisas dessa "amiga" e, não a deixaste algures! Deixas sempre algo bom, mais não seja, a tua presença! ;-)
Estás na terra dos charrocos, não é?! Também não gosto... é fria. Prefiro a "minha" Almada que está perto de tudo...
Acreditas que conheço esse modo bipolar?! E não tenho TPM, ok?! E, bailarinita... como tu também saberás, isso não vai lá com comprimidos! O silêncio é um bom conselheiro, mas em demasia é uma má companhia. Estou muitas vezes com ele, pelo que sei do que falo.

Vamos a reagir... não gosto (nem quero!) de ver uma bailarina triste. Vá... podes começar por esboçar um sorriso... :-)

Beijinho grande e excelente fim de semana! Sempre sorridente...

E deixo-te uma música... sei que gostas deles, mas acredito que ainda não tenhas ouvido esta (nem sequer está gravada!). Foi da tour deste ano... e diz qualquer coisa como MOVING ON! ;-)

http://www.youtube.com/watch?v=M0dPODs1Aco

bailarina disse...

Algures,

Recordo-me sim... o primeiro passo... Já coloquei em prática um passo, não diria o primeiro, mas talvez o primeiro dos últimos. inspirei fundo ontem e fui dentro de muita brutalidade, agressividade, algum cansaço, vontade de arrumar as coisas, a angustia, a incerteza, a dor, a desilusão, alguns sentimentos que são menos simpáticos e fazem aquela linha entre o amor e ódio, tão ténue. Porque o sentimento é meu, onde ele chega será culpa minha!

Pelo menos para isto tenho um plano que sei que é péssimo! Mas tenho que fazer algo ou mais vale ir da milho aos pombos. Se desistir de algo que me agrada e me preenche, que seja! Já perdi tanto na vida, não será por mais uma coisa que virá mal ao mundo!

Quanto a planos em termos de carreira profissional, não consigo criar sequer uma mau plano, quanto mais um plano. Apenas sei que o que planeei para mim à uns anos não tem futuro; me está a destruir quaisquer esperanças de ser independente; já vou nos 38anos portanto recomeçar algo agora começa a ser difícil, não digo impossível, mas difícil. Até podia como distribuidor de jornais... mas eu não vejo nada, as minhas competências sempre as virei para o ensino. Aliás, decidi não ter filhos à uns anos, uma das desculpas que dei a mim mesma é porque tinha sempre os filhos dos outros e isso completava-me.

Sei que me escondo atrás de algo, não sei atrás do que... para além da palavra NÃO!

Já agora, vivi na terra do charroco, essa foi uma das minhas paragens, aquela para onde queria voltar. Sou qual lagarta, bem enfiada na alface. Mas que depois de andar por vários locais e ter a "minha casa", voltar mil e tantas vezes para casa dos país está a tornar-se pouco saudável. Portanto estou num canteiro de alfaces onde opino apenas sobre o que vestir.

Determinada... não sei! As pessoas dizem que sim! Eu digo que sou teimosa!

Já ouviste dizer, quem não tem dinheiro não tem vícios? É assim que vejo, foi assim que fui educada. E quando se tem amigos ou pessoas conhecidas que trabalham, fazem coisas que eu não faço. Optei vir para casa dos meus pais para poupar dinheiro e não o vou gastar em noitadas, cafés ou afins. Não faz parte de mim!

Acordo às 7h30, às 13h30 estou em casa. Depois o silêncio dura até ao outro dia, interrompido pelo tlm, pela tv, pela música.


E não quero comprimidos... :) nada disso! Coragem talvez, comprimidos não! Quanto à irritabilidade... tem a ver e muito com as poucas horas de sono, com as coisas que ficam por dizer e vão acumulando, com as pessoas que ao tentarem defenderem-nos tanto nos magoam, nos impedem de viver a vida, porque a nossa vida é hoje... é agora!

Temos todos um pouco de bipolar, pelo menos se lermos a definição encontramos coisas que nos são comuns. Eu consigo de forma consciente estar bem de manhã e depois deixar-me ir... o que é perfeitamente normal. Ou seja, sou uma pessoa perfeitamente normal, dentro da anormalidade da minha vida e das minhas opções.

Hoje por exemplo (e escrevi este comentário em dois momentos) disse a alguém que me desiludiu. Chamei-o mentiroso e disse-lhe que ele como estava habituado a mentir, poderia fazê-lo mais uma vez não haveria mal ao mundo. Libertei-me de algumas coisas, demonstrei o quanto estava magoada e depois arrependi-me... olha que bonito. Não devia ter sido assim... Por isso certas conversas não devem ser adiadas.

Como podes ver estou a reagir. Não sei se pelo caminho mais certo, mas estou a reagir. Enquanto para meio mundo demonstro ser durona!

E fizeste-me rir sim, quando disseste não ter TPM. Acredito em ti, está descansado. Eu que ando com ele faz 2 meses, não aconselho isto nem 2 dias.

Tens razão, não conhecia esta música. Gosto deles, gostei desta música!

Obrigada! Beijinhos, um excelente fim de semana para ti também! Que seja muito descansado e bastante sorridente!

Algures disse...

Nem sempre dominamos os sentimentos ou onde eles chegam. Há quem diga que sim, eu ainda não consegui atingir esse estado.
Estás a falar com alguém que terminou o curso aos 37 anos, pelo que, nunca é tarde para recomeçar. Quer dizer, vai-se atrasado, mas vamos sempre a tempo, como dizes e bem, é difícil, mas não é impossível...
Vou-te confessar uma coisa, que já sei que vais "ripostar"... como se decide não ter filhos? Do género, vou fechar esta possibilidade. Respeito a opção, mas quando oiço ou leio) estas coisas, soa-me sempre mal (desculpa!) ou a egoísmo (que não és!). Às vezes penso que se trata de uma desculpa, uma desresponsabilização, como que se tivéssemos a tirar uma "carga" de cima. Penso assim relativamente a ter filhos, por não ter uma relação estável para tal, condições económicas ou até pela forma como o mundo caminha, mas não "fecho a porta". Acredito que no fundo também possas ver as coisas dessa maneira, porque apesar de as crianças nos preencherem, creio que nenhuma nos preencherá como um filho.
Percebo o que dizes alfacinha. Nada como o nosso espaço e a nossa horta...assim como o "quem não tem dinheiro não tem vícios", pleno de razão.
A determinação pode ter várias expressões, sendo a teimosia uma delas... continua a reagir, porque chegarás algures onde estarás bem, ainda que, para meio mundo pareças durona...
Os melhores comprimidos, vêm sob a forma de sorrisos. Toma muitos, sim?! Cá vai um... :-)
Riste?! Boa!... e obrigado por acreditares em mim!
Voltando aos vícios, aqui estão uns que não custam dinheiro, e a estrear...
http://www.youtube.com/watch?v=V_T8JRqjkFk
http://www.youtube.com/watch?v=huUgnGS3AUU

Beijinho grande e uma excelente semana!